A onda recente nas academias para um pré-treino milagroso tem nome e origem no mercado farmacêutico, o famoso azulzinho. A tadalafila, originalmente indicada para tratamento de disfunção erétil, vem sendo adotada como pré-treino por praticantes de musculação, comportamento que especialistas consideram alarmante.
O uso recreativo do medicamento explodiu nos últimos meses. Dados indicam que, apenas nos seis primeiros meses de 2024, mais de 31 milhões de caixas foram vendidas no país, tornando-o um dos remédios mais comercializados no período. Mas, boa parte desse consumo não segue orientação médica.
A crença de que o fármaco pode melhorar a vascularização e o desempenho físico é o que tem atraído principalmente jovens entre 18 e 30 anos. Porém, médicos e profissionais da saúde reforçam que esses supostos benefícios não têm respaldo na literatura científica. Além disso, o uso inadequado da substância pode acarretar sérios riscos à saúde, incluindo efeitos cardiovasculares potencialmente graves.
Rodrigo Matos, fisiculturista que experimentou a tadalafila entre 2021 e 2022, compartilha que, apesar da expectativa de ganho de performance, os efeitos práticos foram decepcionantes. "Sempre usei em conjunto com outros suplementos. Não notei nenhuma melhora significativa no rendimento. Depois de um tempo, parei porque percebi que não fazia sentido", conta.
Rodrigo também lembra de um episódio em que, ao ingerir uma dose mais elevada para outro fim, sentiu sintomas preocupantes. "Tive uma forte dor de cabeça e dificuldade para respirar, como se tivesse exagerado na cafeína. Foi um alerta de que a automedicação pode ser perigosa", detalha.
Segundo ele, o próprio meio fitness já ou a ver o uso da tadalafila com desconfiança. "Hoje, quem entende do assunto sabe que não serve como pré-treino. Quem ainda usa, é normalmente por outro motivo, geralmente sexual", explica.
Para a professora Tamiris Frazão, do curso de Educação Física da Estácio, a utilização da tadalafila como reforço para os treinos carece de base científica. “As pesquisas que existem são escassas e inconclusivas. A segurança do praticante deve sempre estar em primeiro lugar. Suplementação só com acompanhamento profissional e baseada em evidências sólidas”, afirma.
Ela lembra que há alternativas seguras e eficazes para melhorar a circulação e o desempenho, como um bom programa de treinos, alimentação balanceada, hidratação e descanso de qualidade. "Existem meios naturais e seguros para otimizar o rendimento, sem recorrer a substâncias com uso questionável".
Riscos à saúde
O farmacêutico Josimar Girão, professor do curso de Farmácia, reforça os perigos do uso não supervisionado. "Entre os efeitos adversos mais comuns estão cefaleia intensa, queda de pressão arterial, rubor facial e dores musculares. Em casos mais graves, o uso pode desencadear eventos cardíacos, como infartos ou AVCs. Além disso, há o risco de dependência psicológica, com pessoas acreditando que não conseguem treinar ou ter desempenho sexual sem o medicamento", alerta Girão.